segunda-feira, 31 de maio de 2010

Nem todas as mães são felizes

Quando ainda tava grávida comprei muitos livros (ops, acho que inicei o outro post com essa mesma frase, confere?) e um deles foi "Só as mães são felizes" da Lucinha Aráujo, mãe do Cazuza. Foi meio assim sem pensar, tava voltando do trabalho,passei em frente a um "sebo", tava baratinho e comprei. Li em menos de dois dias. Primeiro porque amo biografias e esse livro nada mais é que a história do Cazuza, e melhor ainda, pelo ponto de vista da sua mãe. O segundo motivo foi pelo título, bastante sugestivo (que é também uma música do próprio), achei que no final (mesmo sabendo como foi o "final" do Cazuza) a autora iria encontrar alguma poesia nisso tudo. Óbvio que não. Ela termina o livro com a frase , "É...nem todas as mães são felizes". Como pude pensar que uma mãe encontraria felicidade vendo seu filho caminhar lentamente (nem tanto assim) para a morte ?

Tá, não é sobre o Cazuza que vim falar. Aliás esse texto nem tem um tema específico. Venho falar sobre mãe e felicidade. Ou um desabafo, não sei (preciso ser menos prolixa).
Então,(odeio que começa uma frase falando então),isso de mãe ser sempre feliz,de até pra padecer ter que ser no paraíso (oi?), desse ideal de que mãe não sofre, não estressa, não perde a paciência no fundo é tudo fruto de uma sociedade machista que acha que a mulher tem que ser mãe,mulher, profissional e ainda sorridente (batendo um bolo). Não, na verdade a sociedade machista só queria uma muher em casa cuidando dos filhos, nós é que inventamos de trabalhar fora né? Burras! Agora temos que dar conta de tudo!


Porque ai de uma mulher que decida por ter babás! Ai de uma mulher que decida abortar (assunto polêmico). Ai de uma mulher que entregue seu filho em adoção (to escrevendo minha monografia sobre isso). Ai de uma mulher que por qualquer circunstância decida não preencher o esteriótipo que criaram de mãe.
Pois é. Aí temos uma casa pra cuidar, um marido (e uma depilação) a manter, uma profissão que requer nossa dedicação e ainda somos mães no meio disso tudo.
E é aí que quero entrar.
Quando casei, fiz um acordo "pré-nupcial" com o Heitor. Não faço comida. Não sei nem pra que serve a cozinha (a comida brota na minha frente durante as refeições). Nem meu macarrão instantâneo presta. O acordo era pra ele cozinhar e eu fazia o resto (menos lavar e passar). O "resto" resumiu-se a lavar uma louça de vez em quando. Primeiro porque já casei com cinco meses de gravidez e uma gravida não pode ficar fazendo faxina por aí né? (O que?Você com 9 meses tava lavando chão? Meu respeito por você!). E agora que o Miguel nasceu...nem precisa explicar. Começo lavando uma louça de manhã e termino no fim da tarde (nesse intervalo amamento umas 3 vezes,vou fazer o filhote dormir e acabo dormindo junto, enfim...).

Entre dar atenção integral ao meu filho e ficar com a casa brilhando, prefiro a primeira opção. Até aí tudo bem. O problema é que fico incomodada com a casa mal limpa e bagunçada. Mentira. Me sinto culpada por não conseguir cumprir minhas "tarefas" domésticas e cuidar do meu filho (e mais ainda quando durmo e tuito com a turmadabarriga nesse período). Meu marido chegar cansado do trabalho, ir pro tronco fogão e não encontrar mal uma louça lavada é chato... (desconsidere que eu tenho que chantageá-lo emocionalmente todos os dias pra ele fazer a comida).

Daí que eu vendo outros relatos de mães em blogs por aí, comecei a perceber que muitas passam por esse mesmo dilema, sendo que não somos obrigadas a sermos mulheres maravilhas. Ninguém é perfeito em tudo! Por que temos que ser? Eu decididamente não nasci pra ser Amélia dona de casa. Não levo jeito, não gosto, e decidi que não quero. Até hoje não entendo o espanto das pessoas quando falo que não sei cozinhar. Lá em casa na casa dos meus pais, quem cozinha é meu pai. Minha mãe até sabe, mas só faz quando meu pai entra em greve em último caso (mas é mestra em sobremesas). Vai ver, vem daí essa minha utopia de achar um marido que faz comida feliz (porque meu pai ama) e eu entraria só com...o rostinho feliz de satisfeita! O Heitor só sabe o básico (resultado de anos como escoteiro) e não gosta, então não tá dando certo isso aqui.

E pelo bem do nosso casamento e mais ainda pela minha libertação do fardo de ser mãe/esposa/profissional/dona de casa, resolvi contratar uma empregada (odeio esse termo). E só isso já daria outro post. Como a Lia, do blog Saco de Farinha falou nesse post, isso de empregada/patroa me soa tanto como um "resquício da escravidão". Tá, eu sei que é uma profissão como outra qualquer (será que todos pensam assim?), mas nunca me senti à vontade com alguem me servindo assim não. Pode ser bobagem minha.


Além dos motivos acima, o que me fez chegar a essa decisão foi a história de vida de uma senhora que fez uma diária na casa da minha mãe sábado. Aproximadamente 50 anos, 10 filhos(eu disse DEEEZ) filhos. Sendo que foram 4 "barrigadas" de gêmeos (você leu certo, 4 gravidezes -tá certo gravidezes viu?- de gêmeos).Quatro desses filhos são deficientes e um, o único que já ajudava a mãe foi assassinado recentemente.

- Pausa - Foi morto pela polícia. Sabe por que? Os polícias o interrogaram e acho que pediram pra ele colocar as mãos pra cima. Ele não obedeceu. Eles atiraram no rapaz. "Detalhe": ele era surdo. - Despausa-

Ela não tem marido. Não tem emprego. Minha mãe perguntou quanto cobrava pela diária e ela respondeu "o que a senhora quiser me dar". O único auxílio que recebia do governo (cesta básica) foi suspenso sem motivo.

Imagina ter nove filhos pra alimentar e não ter o que dar a eles? E ver seu filho assassinado injustamente?E não sequer saber ler uma placa, quem dirá lutar pelos seus direitos ( a Assistência social é direito de todos e dever do Estado)?


Ai gente a dor dessa mãe me doeu tanto.


É...eu aqui com minhas dores de não saber conciliar os papéis e essa história (que me tocou demais). Resolvi juntar as duas coisas. Uma mãe ajudando a outra. Uma ajudando a outra a ter uma casa limpa e comida feita ( e a ser uma mulher bem resolvida). E a outra dando emprego pra esta pelo menos criar seus filhos com um pouco de dignidade.

Felicidade?Não sei.Não sei se todas as mães são felizes não...

3 comentários:

  1. Vc ta certa viu?

    Tb estou quase desistindo e abrindo mão de algumas coisas pra pagar uma empregada, odeio casa, odeio cozinha e o Vini é uma mão de obra.

    Que história triste dessa mãe mulher, doeu em mim...

    Beijos em vcs

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  2. Gostei mto do seu texto Mari,
    O ideal de mãe/mulher/dona de casa/mulher independente é impossível de ser atinguido...
    Admiro mto as mulheres que trabalha foram, cuidam de casa e do marido, mas penso até q ponto são felizes??? Minha mãe trabalhou fora a vida toda, tentou ao máximo arrumar tempo pros filhos, mas chegou uma hora q ela viu q ela n era invencível e precisava de ajuda...e é por ai, cada um é bom numa coisa, e penso que a atenção, carinho e amor que se dá aos filhos é mto importante, melhor q ficar esfregando o chão....
    Eu to entrando pra o 7° mês e quase pedindo arrego...divido as tarefas de casa com o marido, mas vemos a necessidade de termos ajuda...
    A casa brilhando é bom...rs...mas poder curtir cada minutinho dos pequenos...é mto melhor...

    Bjão e tdb pra vcs

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  3. Lila!
    Já deixei o recado no seu orkut da minha admiração por você! Vou deixar um aqui pra dizer que me tornei sua fã. O seu blog anterior foi o melhor que eu já vi. E tô vendo que minha presença aqui será constante também! Muito bom! Bjão... Cris

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